Não bastasse eu ter uma dúzia de opiniões polêmicas e com as quais a maioria das pessoas não concorda, eu ainda nasci sem aquele filtro de triagem entre o que o cérebro pensa e a boca fala. Até estou tentando encontrar o equilíbrio, mas sabem como é, esse é um exercício difícil e demorado. Um dia chego lá. Enquanto isso, aumento minha coleção de situações desastrosas que assim ficaram por conta da minha língua.
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Primeiro mês de aula com o professor bonitinho (que já era meu amigo). Aula de Ciência Política, uma matéria que não é definitivamente uma das preferidas dos estudantes de direito acéfalos e preguiçosos. Pauta: cotas raciais. O professor bonitinho se mostra claramente contra as cotas, usando argumentos absurdos como “cotas raciais são preconceito contra branco” ou “negros também tem capacidade, não precisam de cotas”. E eu, quieta, ouvindo tudo com maior cara de blasé. Mas não me agüentei quando ele disse que as cotas baixam o nível de uma universidade. Peço a palavra, e digo em tom indignado:
- Me desculpe professor, mas pra mim você é claramente reaça e racista. O que baixa o nível de uma universidade não é a diversidade racial, mas a falta de senso histórico de alguns docentes que não sabem patavinas daquilo que falam!
Não à toa, fiquei muito espantada quando contei a ele que tentarei cursar Direito e Ciências Sociais simultaneamente, em outra cidade, e ele disse lamentar pela perda de uma das melhores acadêmicas da instituição (e não foi em tom irônico!).
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Minhas amigas gostam de me levar pra comprar roupa com elas, porque sou sincera mesmo. Esses dias, minha prima experimentou um vestido de tule e cor-de-rosa, e me pediu opinião sobre ele. Não pensei duas vezes:
- Como vestido, ele é um ótimo embrulho de bombom!
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Em outra ocasião, presenciei uma conversa sobre Ditadura Militar, um tema que tenho estudado bastante de uns dois anos pra cá. Eu estava acompanhando um amigo numa festa (tá, não era só meu amigo, mas é tão chique dizer “amigo” quando a gente se refere à ex, né?), e seus amigos falavam sobre o "milagre econômico" e "o quanto o país precisava de uma ditadura militar novamente". Não me segurei.
- Pra quê tortura? Já é tortura, e das grandes, ouvir comentários tão ignorantes e limitados sobre o período triste que foi a Ditadura Militar.
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Por conta desse meu gênio, descobri dois lados. O ruim é que a gente acaba conquistando uma legião de pseudo-inimigos, e o bom é que eu acabo conhecendo muita gente bacana que às vezes concorda comigo, ou me mostra que estou errada. Não sou sincericida, acho que sei bem a diferença entre ser sincera e magoar quem eu gosto. Se uma amiga corta o cabelo, me pede a opinião, e eu acho feio, digo apenas que ela não ficou feia, mas eu achava que seu cabelo antigo era bonito demais pra ser cortado. Se me pedem qual sapato é mais apropriado pra usar, entre um horrível e um cabuloso, eu dou um jeito de achar uma terceira opção. Mas com gente escrota eu não tenho paciência mesmo!
É complicado dosar, principalmente porque eu sou esquentadinha quando alguém se mostra preconceituoso. Não discuto religião ou futebol. Mas não me peça pra ficar calada se alguém sair com o absurdo “aborto, independente do mês da gestação, é assassinato” ou “gays deveriam passar por tratamento psicológico”.
Até fico calada, se eu não estou exatamente na conversa. Mas que o sangue me sobe à cabeça, ah, se sobe!
Se alguém tiver dicas sobre como controlar o pavio curto, aceito sugestões. A primeira resolução para o ano-novo é controlar minha língua e pensar dez vezes antes de falar.
A segunda é descobrir se eu tenho alguma chance com o professor bonitinho.
Penélope.
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Primeiro mês de aula com o professor bonitinho (que já era meu amigo). Aula de Ciência Política, uma matéria que não é definitivamente uma das preferidas dos estudantes de direito acéfalos e preguiçosos. Pauta: cotas raciais. O professor bonitinho se mostra claramente contra as cotas, usando argumentos absurdos como “cotas raciais são preconceito contra branco” ou “negros também tem capacidade, não precisam de cotas”. E eu, quieta, ouvindo tudo com maior cara de blasé. Mas não me agüentei quando ele disse que as cotas baixam o nível de uma universidade. Peço a palavra, e digo em tom indignado:
- Me desculpe professor, mas pra mim você é claramente reaça e racista. O que baixa o nível de uma universidade não é a diversidade racial, mas a falta de senso histórico de alguns docentes que não sabem patavinas daquilo que falam!
Não à toa, fiquei muito espantada quando contei a ele que tentarei cursar Direito e Ciências Sociais simultaneamente, em outra cidade, e ele disse lamentar pela perda de uma das melhores acadêmicas da instituição (e não foi em tom irônico!).
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Minhas amigas gostam de me levar pra comprar roupa com elas, porque sou sincera mesmo. Esses dias, minha prima experimentou um vestido de tule e cor-de-rosa, e me pediu opinião sobre ele. Não pensei duas vezes:
- Como vestido, ele é um ótimo embrulho de bombom!
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Em outra ocasião, presenciei uma conversa sobre Ditadura Militar, um tema que tenho estudado bastante de uns dois anos pra cá. Eu estava acompanhando um amigo numa festa (tá, não era só meu amigo, mas é tão chique dizer “amigo” quando a gente se refere à ex, né?), e seus amigos falavam sobre o "milagre econômico" e "o quanto o país precisava de uma ditadura militar novamente". Não me segurei.
- Pra quê tortura? Já é tortura, e das grandes, ouvir comentários tão ignorantes e limitados sobre o período triste que foi a Ditadura Militar.
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Por conta desse meu gênio, descobri dois lados. O ruim é que a gente acaba conquistando uma legião de pseudo-inimigos, e o bom é que eu acabo conhecendo muita gente bacana que às vezes concorda comigo, ou me mostra que estou errada. Não sou sincericida, acho que sei bem a diferença entre ser sincera e magoar quem eu gosto. Se uma amiga corta o cabelo, me pede a opinião, e eu acho feio, digo apenas que ela não ficou feia, mas eu achava que seu cabelo antigo era bonito demais pra ser cortado. Se me pedem qual sapato é mais apropriado pra usar, entre um horrível e um cabuloso, eu dou um jeito de achar uma terceira opção. Mas com gente escrota eu não tenho paciência mesmo!
É complicado dosar, principalmente porque eu sou esquentadinha quando alguém se mostra preconceituoso. Não discuto religião ou futebol. Mas não me peça pra ficar calada se alguém sair com o absurdo “aborto, independente do mês da gestação, é assassinato” ou “gays deveriam passar por tratamento psicológico”.
Até fico calada, se eu não estou exatamente na conversa. Mas que o sangue me sobe à cabeça, ah, se sobe!
Se alguém tiver dicas sobre como controlar o pavio curto, aceito sugestões. A primeira resolução para o ano-novo é controlar minha língua e pensar dez vezes antes de falar.
A segunda é descobrir se eu tenho alguma chance com o professor bonitinho.
Penélope.
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