quarta-feira, 19 de setembro de 2012

DESFAZENDO NÓS





Há muito tempo eu penteava o cabelo e havia um grande nó numa das maiores mechas. Eu ignorava o nó e penteava o resto do cabelo. Sabia que o nó ficaria lá. Por vezes pensei em usar a tesoura, mas prejudicaria o corte do cabelo. Preferi carregar o nó, disfarçando-o entre outras madeixas. Algumas vezes, eu tentei com pente e condicionador tirá-lo de lá, mas não deu. Ele ficou, mesmo que o espelho não me revelasse o embaraço, pois ele estava bem atrás, disfarçado. E eu sentia falta de deslizar os dedos entre os cabelos... Mas evitava me lembrar desse pequeno prazer.

Foi quando ele disse: "Posso?", olhando para o meu cabelo com atenção. Fiz sinal em afirmativo, ruborizada com sua presença, uma tênue lembrança. Ele pousou suas mãos no nó, no embaraço, na confusão. E ao balançar a cabeça outra vez, ela parecia pluma. Eu o agradeci, ele sorriu e me contou, feliz, como era fácil desmanchar certos nós.

Sei que há nós que nunca serão desfeitos, mágoas e perdões que estão resolvidos, mesmo que a resolução deles sejam o fim ou a ruína. Porém este nó, o meu nó, aquele que estava taxativamente no meu cabelo pôde facilmente ser dissolvido.

E hoje, agora, eu posso dizer francamente que não há mais ressentimentos. O passado já não precisa de cortes quando penso nele e me orgulho de ter partilhado a mesa com alguém tão honesto e virtuoso. E, claro, também me condeno por ter gastado tanto tempo cuspindo enxofre. Mas afinal eu precisei de um escudo para aceitá-lo longe, feliz com outro alguém. E posso escrever que me arrependi ou que talvez eu tenha errado. Mas não escreverei isso. O que quero escrever é: Obrigada por estar aqui de novo. Obrigada por tornar minha cabeça pluma.








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Postado por
Sarita


às
00:04












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