quarta-feira, 19 de setembro de 2012

VAI SE DEPILAR HOJE?



Bom, como o tempo e uma amigdalite chata corroeram essa semana, não me restaram brechas para escrever um post digno do retorno do blog. Resolvi repassar a vocês, com todos os créditos indicados, reconhecidos e dignos, uma crônica do ilustre Fabrício Carpinejar, um escritor incrível que tem uma visão do universo feminino e relacionamentos que vale a pena conhecer! Espero que curtam!  Arte de Allen Jones




Não se pode ser bagaceiro sem antes ter intimidade. Não dá para sair falando como se estivesse no quarto; primeiro deve-se atravessar a sala, o corredor, a cozinha.



Safadeza é merecimento. Os atravessadores não merecem o céu da boca. Os apressados não terão a recompensa divina. Os ansiosos desperdiçarão sua chance de Éden. Sou favorável à lentidão, por isso nunca frequentei praia de nudismo. Tampouco sou adepto de swing ou de qualquer prática que banalize a sensualidade.



Vamos direto à ação não funciona comigo. Conversa que é a ação, desprezá-la indica apatia e conformismo.



Aparecer pelado de repente é broxante. Não queimo etapas: desvestir as palavras para depois se despir, encontrar o sim dentro do não, achar o amor definitivo dentro de um talvez.



Partilhar a memória só é possível para quem reparte a imaginação. Reprimido não é o que não confessa seu passado, é o que não consegue expor suas fantasias.



Entendo a decepção da esposa quando ela volta do banheiro e seu marido já a espera pronto na cama. Direto. Apartado de preliminar e provocações. É pior ainda quando ele nem está excitado.



Tão mais prazeroso quando um tira a roupa do outro e se roça e se enreda de sinais. Não dependemos de música-ambiente, desde que sejamos envolvidos pela respiração de nossa companhia. Respirar perto e acelerado prepara o gemido.



Gosto quando a mulher está sem calcinha, mas que não surja nua de assalto. Como materialização do túnel do tempo. Que seja um pouco difícil para me sentir importante. Quero deixá-la à vontade para criar vontade.



A sugestão feminina é uma dádiva. Aquela que diz de cara que está molhada e úmida veio de um filme pornô. Nem sequer leu o roteiro.



Assanhamento pressupõe a malícia de declarar a intenção não entregando o sentido de bandeja. Admiro as mulheres que insinuam, sempre criativas, não facilitando os lençóis. Testam a inteligência do seu parceiro.
Por exemplo, sei que minha namorada está a fim quando avisa, despretensiosamente (isso é importante!), que foi no salão. Quando indisposta, lamentará que não teve tempo.



“Eu vou me depilar hoje” é a senha. Desnecessário o convite literal. Cresço de alegria. A verdadeira terapeuta sexual é a depiladora, é a que resolve as brigas e as discussões. Eu amo todas as depiladoras do mundo pela alegria noturna que oferecem aos homens. São as madrinhas morais de nossa imoralidade.



Sexo pede respeito. Sem respeito, como iremos perdê-lo no decorrer do enlace?









Publicado no jornal Zero Hora

Segundo Caderno, coluna quinzenal, p. 3, 22/11/2010

Porto Alegre (RS), Edição N° 16527








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Postado por
Thaís Prado


às
11:56












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