quarta-feira, 19 de setembro de 2012

COMPRAR




Não sou boa para dinheiro. Se tenho, gasto com coisas pequenas e banais. Se não tenho, entro no cheque especial e deixo para pensar no outro mês o que fazer com a conta do cartão de crédito. Tenho urgência por consumo. Lembro uma vez de assistir a Grazi Massafera, ex-BBB e aspirante ao cargo de Musa Global, dizer que sobrevivia com um salário mínimo. Sim, há gente que sobrevive com bem menos.

Você diria hoje que viveria bem com a bagatela de R$10.000,00 por mês, mas daqui a um ano essa realidade não seria a mesma. Estou excluindo o fato de que os preços aumentam, estou falando estritamente no fato de que o poder aquisitivo nos leva a um leque de novos confortos.

Bill Gates doou boa parte do seu dinheiro a instituições e, hoje, não é o homem mais rico do mundo. Ter muito dinheiro implica em saber que se pode comprar tudo e "poder comprar TUDO" deve ter um sabor aguado.

Imagine-se riquíssima, adentrando a sua loja favorita e comprando 20 pares de sapatos numa tarde só. No primeiro momento, isso parece um sonho, nem o gênio da lâmpada mágica realizaria esse desejo, mas e depois de alguns anos? O consumo teria esse "sabor"? Para mim não. Nunca fui rica, mas consumir tem um quê de VITÓRIA para quem não tem o luxo de "comprar tudo". Quando compro, levo para casa O NOVO, algo NOVO para me reencontrar. Algo NOVO para me dizer "Olha, você tem coisas novas, haverá AMANHÃ". É como se eu tivesse certeza que ao usar aquele objeto, eu estaria trazendo NOVIDADE ao meu semblante.

Não sei se vocês conhecem a lendária história (estória) da moça que nunca usava um vestido, esperando uma OCASIÃO ESPECIAL, e acabou morrendo sem usá-lo. Essa metáfora servia para dizer "Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje! Curta a vida. Viva como se fosse o último dia da sua vida". As coisas novas nos dão a certeza de que "precisamos" estar vivos para usá-las. Tenho a péssima mania de arranjar ALGO para estrear UM SAPATO, por exemplo. É, eu invento uma saída para jantar, só para usar o bendito. Tenho urgência em tornar a coisa não "mais nova" e perseguir outra coisa nova na vitrine. É uma batalha que eu sempre saio perdendo, óbvio, quem tem dívidas sabe.

Certa vez, percebi que tinha todas as cores de scarpin (o estilo de sapato que mais me atrai). Havia conseguido comprar o último, um pink. A batalha para comprá-lo foi estafante, para amenizar a angústia comprei outros tons parecidos neste ínterim. Quando eu o achei, pus fim na busca e aquilo me angustiou.

Parei diante dos sapatos e me perguntei o que faltava. A busca havia cessado, não precisava ir atrás de nada, nem ir ao novo shopping tal averiguar se lá havia o tal "scarpin rosa". Por um tempo, percebi que o scarpin rosa era o que me movia, conduzindo-me a vitrines e engarrafamentos. Nunca usei o tal scarpin rosa, a minha excitação diante dele não me deixou enxergar que seu salto era 10 (ou seja, impossível que eu me equilibre NUM desses). É, meninas, o bendito sapato é a representação do meu desejo de comprar, apenas o verbo no infinitivo, estático e atemporal...



Zíngara








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Postado por
CF


às
11:46












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