quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Um pastor alemão, um sofá e uma cidade chamada Brasília



A primeira vez que fui a Brasília demorou 10 horas. Naquela época, era muito comum eu viajar de ônibus à noite e trabalhar o dia inteiro. Ou melhor, tentar trabalhar. Não tem nada pior que a sensação de sono pesado batendo na sua porta durante todo o dia, não há nada mais constrangedor (e aflitivo) do que tentar parar um bocejo no meio de uma reunião.

Trabalhar depois de uma noite mal dormida em um ônibus (convencional, diga-se de passagem) é realmente desumano. Bendita uma hora de viagem de avião! Hoje sou feliz e sei que sou rs...

Acabo de visitar Brasília novamente, mas por mais que o tempo passe, não consigo me desvencilhar da imagem que vem à minha mente quando penso em nossa capital, tudo por causa da minha primeira visita ao Planalto Central.

A imagem de um pastor alemão. E de um sofá. Ok, sei que é estranho, mas vou contar como tudo começou.

Era noite, e eu estava a caminho da minha hospedagem. Naquela época, hospedar-me significava abrigar-me em um dos dormitórios das escolas para as quais eu trabalhava. Nesse caso específico, era uma residência de religiosos, atrás do terreno de uma escola católica, perto da quadra poliesportiva.

Pois bem, lá estava eu, em companhia da recepcionista da escola, quando ouço um grito (dela) e vejo um vulto correndo em minha direção.

Um segundo depois, o vulto tinha um bafo de cão (literalmente), as patas sobre o meu peito e a boca, aberta, bem pertinho do meu pescoço.

Sabe descarga elétrica? Agora imagine uma assim, mas de adrenalina. Quase surtei, mas fiquei estática. Achei que tinha chegado a minha hora, mas por que em Brasília, qual seria o significado daquilo? Graças a Deus meu anjo da guarda veio em forma de porteiro, o porteiro da escola, que tanto gritou para o cachorro que o danado acabou me largando e voltando para o seu lugar.

-Ele é treinado para atacar, sabe? – Explicou o funcionário.

Sim, eu sabia. Tinha aprendido da melhor forma possível. E desaprendido a andar. Minhas pernas já não mais me obedeciam.

Aquela noite foi mesmo muito maluca. Toquei o interfone do meu “suposto abrigo” umas duzentas vezes, e nada. Resultado? Dormi no sofá da sala do diretor da escola. Quer dizer, tentei dormir, pois não conseguia tirar a imagem do cachorro peludo do meu pescoço, ou melhor, da minha cabeça. Noite danada. No dia seguinte, até meu mindinho doía. Passei a valorizar os dias de trabalho pós-noites mal dormidas em ônibus convencionais. Elas realmente são excepcionais perto das noites mal dormidas em sofás de diretores de escola pós-quase-ataque de Pastor Alemão.

-Gostou do hotel, moça? – Perguntou o taxista ao me levar, na última quarta-feira, ao aeroporto.

-Gostar é pouco, meu amigo! Eu amei!!! Aquilo é um paraíso... Verdadeiro paraíso! - comentei, com um sorrisão no rosto, para um motorista que fez cara de desconfiado...


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