quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Meus finais




Toda mulher sensata jamais começaria um relacionamento vislumbrando um fim, não é mesmo? Só se este fim for um The End da Disney, com direito a festa de casamento e, como testemunhas, fadas incrivelmente reluzentes sob suas cabeças. Aí tudo bem. Mas o que eu sempre esqueço enquanto estou beijando a primeira vez aquele homem maravilhoso, que jura que vai me amar até os fins dos seus dias, é como ficarei quando nos separarmos. E como a dor é visceral e implacável.

E é tão previsível a maneira que me comporto após um término, que eu poderia descrevê-lo como um passo-a-passo de receita de bolo. Sei exatamente quantas lágrimas vou chorar e quantas tentativas fracassadas de sorrir existirão. E não adianta, não é porque ERA fulano ou sicrano. O lance é comigo. A coisa é minha. O final corrosivo é comigo. É com o fato de eu reconhecer, mais uma vez, que não encontrei o meu par.

Então, o apetite não vem, mesmo que eu não tenha comido o dia inteiro. É como se eu acabasse de devorar uma feijoada com 2 litros de coca-cola. E, acredite, para uma pessoa comilona como eu é quase incrível que eu não sinta fome por dias a fio. Logo, me irrito com a falta de apetite e me obrigo a tomar um suco de cajá. Finais têm gosto de suco de cajá, definitivamente. Eu os adoço de uma maneira peculiar, coisa que eu não faria se estivesse tendo uma rotina comum.

Obrigo-me a fazer uma enorme jarra de suco de cajá que fica me olhando surpresa quando abro a geladeira. Adoço bem o suco e algumas lágrimas brincalhonas saltam para dentro do copo. Percebo quão aguado o suco está agora e mesmo assim eu o engulo, driblando a ânsia de vômito.

Ocupo meu dia com coisas supérfluas, passo a arrumar exaustivamente minhas gavetas e até me atrevo a abrir os ventiladores para limpar. Vou à padaria e choro na fila do caixa. Vou à academia e choro na esteira, bem como na bicicleta. Vou ao zoológico e choro quando o leão e a leoa deitam-se lado a lado. Ligo o carro e, pateticamente, as lágrimas estão lá. Chego antes do horário do trabalho porque, é claro, acordo bem antes de o despertador latir. Fico extremamente em forma, extremamente pontual, extremamente organizada – Tudo aquilo que eu queria ser quando estava beijando o “homem da minha vida”.

Ah, tenho que ressaltar que estou sempre de óculos escuro dentro de casa. E, para o meu filho, eu peguei um enorme resfriado. Sou daquelas criaturas que quando chora consegue se perceber a quilômetros de distância, meu corpo dança, as bochechas ficam incrivelmente vermelhas e os soluços se desprendem sem censura. Os olhos? Mike Tyson andou lutando comigo! E é tão ridículo ter que encarar a multidão com esses sintomas...

Mas lá vamos nós... Saídas com algumas colegas para lugares que eu não queria estar. Livros, muitos livros sobre frivolidades que eu não teria atração para ler e, claro, passagens para algum lugar. Obviamente que vou depositar toda minha atenção para um problema de alguma amiga. Não me permito estar sozinha com meus pensamentos dois minutos que seja. Nada de ficar mais um pouquinho na cama, nada de tempo livre. E nada de abraços, sob pena de desabar na frente de alguém que falará a frase previsível: - Ok, você não gostava dele! Então para quê esse drama?

Peço, humildemente, que não menosprezem a minha dor assim. Não é por Ronaldinho, Ricardinho, Fernandinho ou Bostinho que choro. Não! O problema é comigo, a dor é só minha e é por MIM que sofro.

Um final é sempre uma semi-morte. Eu quase morro por alguns meses até encontrar alguém que vai me inebriar do desejo de ser feliz. Uma névoa espessa de burrice não me deixará ver toda a tortura de outrora. Eu sorrirei para ele, descrente que haja algum mal por trás de tudo. Eu o direi “Eu te amo” como se dissesse “Sim, por favor, me atire essa bóia para que eu não me afogue”.








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Postado por
Sarita


às
06:00












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