quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Crônica de uma unha quebrada



Já repararam a imagem que os homens fazem de uma mulher fútil? 9 em 10 imaginarão uma loira falsa gostosona, cantando música de micareta e lixando a unha. É impressionante como o ato de lixar unha é significativo.

Lixar a unha pode significar futilidade, sim, dependendo do contexto (tipo o exemplificado acima). Mas também pode ser um ato de rebeldia: já experimentou lixar a unha na sala de aula, estando sentada a poucos metros do professor mais autoritário e nojento da faculdade?

Pode ser um ato para escapar do tédio, se você está na fila do banco e só tem gente desinteressante e sóbria na fila.

Pode significar indiferença, se você lixa a unha enquanto alguém se propoe a discutir um assunto sério com você. E assim vai. Punks, patricinhas, hippies, executivas, sem rótulo definido: ou você tem unhas minúsculas (como os homens) ou você se acostuma ao apetrecho que custa centavos, mas faz milagres pelo bem-estar feminino.

Mas os homens raramente entendem a necessidade disso! Vou ilustrar um caso meio exagerado (oi? meu sobrenome?) para quem insiste em achar que se preocupar com a unha em determinados momentos é futilidade.

Sexta-feira a noite, é primeiro encontro de Catarina e Eduardo, um cara que ela está super afim. Um jantar num restaurante chique. Catarina se depilou, se maquiou, se perfumou, deu um trato nas unhas, pôs uma roupa legal e foi na fé (ok, é mais complexo do que isso, mas preciso resumir).

Ela chega no restaurante com ele, linda e formosa. Põe o guardanapo no colo, brinda e começa a comer o couvert. Sua perna coça. Ela abaixa a mão e se alivia, sabendo que a mesa lhe protege, felizmente. Enquanto coça por cima da calça jeans, sente que alguma coisa deu errado. Muito errado. Levanta a mão um pouco e vê: a unha do dedo do meio lascou e quebrou pela metade, num lance meio zigue-zague. Não pensa duas vezes: levanta e vai ao banheiro.

Chega lá e vasculha sua bolsa, enquanto avalia o desastre na unha. SÓ uma lixa salva. Catarina procura, procura, e nada. Poxa, ela veio toda preparada! Na sua bolsa tem de tudo: tem camisinha, porque sempre é melhor garantir. Tem todo um kit de maquiagem. Tem engov, aspirina, pílula anticoncepcional. Balas de menta. Tem lenço de papel. Tem bloquinho de notas, caneta, tem tudo. MENOS a maldita lixa. Ela lembra com infelicidade que a desgraçada ficou no fundo daquela outra bolsa, usada no trabalho horas antes. Lembra, com mais infelicidade ainda, que sua mãe tem na carteira dela uma mini lixa que, na real, é um santinho de vereador. Mas é uma lixa. Catarina sempre a recriminou, disse que era brega, ainda mais porque era santinho do partido do Maluf.

E agora se recorda com saudade daquela lixa. Podia ter uma foto do próprio Maluf nela, a essa altura ela não ia ligar.

Começa a buscar loucamente por qualquer superfície áspera semelhante a uma lixa. A situação é meio desesperadora, e a demora no banheiro pode suscitar dúvidas inconvenientes no mocinho. Será que o cara vai achar que ela está... se aliviando? Que desagradável para um first date.

Mas é a unha do DEDO DO MEIO! Todas as outras 9 unhas lindas, compridas e perfeitas. E UMA lascada e quebrada. Catarina tenta consertar roendo a bordinha. Piora. E ainda por cima, descamou.

Numa medida desesperada, ela raspa a unha na junta da parede. É quase áspero. Legal, quebrou mais um pedaço da unha. Não resta muita coisa a fazer, mas ela ainda não quer apelar. Sabe, por outro lado, que não poderia ter desencanado do problema da unha. Qualquer hora ela ia tocar em algum tecido, e a lasquinha prenderia em um fio de tecido, que seria puxado eternamente pela sua unha. Ia ser meio ridículo.

Catarina pensa em suas opções: voltar à mesa com a unha naquele estado, correndo o risco de desfiar tecidos mil. Pode também sair pelo restaurante caçando uma lixa, ou esperar eternamente que uma mulher entre no banheiro, aí pede a ela. Mas e a dignidade? E o TEMPO?

Outra opção: mandar tudo às favas, roer a unha problemática e evitar mostrar o dedo do meio, numa imitação de Lula no dedo errado. Ela faz isso, mas fica péssimo. As outras unhas estão muito grandes.

Então manda que o mundo se lixe (rááá! Doce ironia) e roe tudo. Nada pior do que um monte de unha linda e uma horrorosa no meio. Que fiquem todas iguais, pelo menos.

Volta à companhia do belo.

Ele obviamente não repara nas unhas de Catarina, embora o tédio da espera esteja expresso em cada linha de seu rosto. Mas, pronto: a noite está fadada ao fracasso. Ela vai passar o jantar evitando expôr as mãos. Ele vai sentir a tensão dela e vai achar que ela não está curtindo. Ela até poderia explicar o drama, mas ele acharia besta e fútil.

Fim.

--
E aí, leitoras, algo semelhante já aconteceu a vocês? O que fariam na situação da Catarina? E vocês, homens, o que acham dessa história toda?

Para pagar a minha manicure ou simplesmente dar um oi:

anamyself@corporativismofeminino.com
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Beijo!

(Agora eu também sou uma Corporativete! Vou dividir as quartas com a Bel!)








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Postado por
Anamyself


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06:30












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