quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cotidiano





Semana passada fui convocada para trabalhar no sábado. E para fazer o trabalho de outra pessoa, diga-se de passagem.

Parecia algo inofensivo, a princípio. "Mel, será que você poderia fazer uma horinha extra no sábado e me ajudar a terminar isso? Coisa rápida".

Evidente que pedidos como esse, vindos da manda-chuva do negócio, não passam de convocações eufemizadas, e foi nisso que eu pensava enquanto sorria amarelo e respondia "Mas é claro".

Sábado de manhã, olheiras de urso panda e cabelos num rabo de cavalo, lá estava eu batendo meu "peão card" e mentalizando o mantra "adicional de 50%, adicional de 50%".

Queria fazer tudo rapidinho e zarpar. Tinha hora para entrar mas não sabia quando ia sair. Só dependia de mim.

Mas meus planos de um almoço acompanhado de um grito de liberdade foram por água abaixo quando a mulher insana me disse o que eu teria que fazer. Eram coisas humanamente impossíveis de se cumprir em 4 horas.

Começou a bater o desespero. Fiz tudo numa velocidade alucinante e coloquei a maior pressão na mulher. Meu receio de causar má impressão tinha ficado anos-luz atrás. Dane-se!

Depois que me livrei da carrasca, que pretendia ficar na empresa até as 18h e ler umas convenções coletivas à noite (afff, mil vezes afff) saí no maior cooper em direção ao metrô.

Com meu sábado pela metade e atravessando São Paulo por baixo da terra, comecei a pensar no lado bom de ter uma rotina.

Os últimos 5 anos da minha vida desconheciam o sabor do sábado por causa da faculdade, mas eu não morria de desespero. Ia xingando Deus, o mundo e Satanás mas sabia que horas eu sairia de lá.

Da mesma forma que hoje eu sei que quinta-feira é dia de manicure e depilação. Que sábado de manhã acordo e encontro meu namorado dormindo do meu lado. Que sexta-feira a faxineira vem e preciso guardar as roupas que ficam espalhadas pelo meu quarto durante a semana toda. Que domingo à noite eu vou sentar em frente ao computador e fazer um post para o blog.

Eu que sempre fugi da rotina porque queria viver la vida loca, hoje me vejo com esses papos. Cansei de surpresas.

E para calar a minha boca, assumo que entrei para o time daquelas que quer juntar as escovas de dentes.

Cada dia mais quero alguém que compartilhe desse meu cotidiano banal porque percebi que nada disso necessariamente atrapalha meus planos de dominar o mundo. Acho até que posso começar assim, dominando um homem (hahahaha).

O sonho da Cinderela é plantado quando ainda brincamos de boneca e mais dia, menos dia, ele ressurge...até que o zé mané banque o cafa e te faça odiar os homens novamente.

Agora meu mantra é esse: seja feliz, seja mulé, mas não fique burra.

Vamos ver se consigo...Diz a lenda que o amor amolece e emburrece. Mas eu ainda estou achando tudo isso muito legal (ai, será que já emburreci?)

Ao som de "Cotidiano":

Todo dia ela faz tudo sempre igual

Me sacode às seis horas da manhã

Me sorri um sorriso pontual

E me beija com a boca de hortelã








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Postado por
Mel


às
00:01












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