quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Arrastando corrente...




(Arrastar corrente, diz-se de alguém que insiste em carregar os problemas do passado para onde quer que vá)


Eleonora estava apaixonada e era correspondida. Ela quase não acreditou quando Roberto amou todas as suas esquisitices e pediu sua mão esquisita em casamento. Não pestanejou e, prontamente, aceitou. Ela era jovem e adorava exibir seu corpo num microbiquíni. Roberto adorava o exibicionismo da mulher. E, fugindo da esquisitice, tiveram um casal de filhos. O segundo filho deixou Eleonora mais desleixada e preguiçosa. Para não se cansar mais, deixava que a criança dormisse na cama com seu marido e, assim, Roberto deixou de apreciar o exibicionismo de Eleonora.

Depois do filho veio a nova religião e, com ela, roupas dignas de um bom inverno. Camisas cavadas só eram usadas se por dentro houvesse uma boa camisa de mangas longas. O biquíni de Eleonora foi doado, junto com sua libido. E, assim, Eleonora pusera na cama um filho e Jesus.

Eleonora possuía uma amiga que confiava cegamente, ela estava sempre presente no dia-a-dia do casal. Era solteira e Roberto já notara esse atributo. Interessou-se pela amiga da mulher: Perfumada, distinta, exibida e sorridente. Não demorou muito para que a amiga despertasse um interesse pelo marido. O marido que suportava Eleonara sem tomar banho e, ainda, tinha que dormir quase na beira da cama para dar espaço a Jesus, ao filho e, posteriormente, aos chifres da mulher nutria admiração por parte da amiga da mulher. Assim, a amiga admirava Roberto pela persistência. Roberto admirava a amiga da mulher pelos seios fartos.

Eleonora costumava adormecer com lexotans após voltar da igreja esbaforida. Numa dessas noites, a amiga de Eleonora não conseguiu se conter e a libido ganhou gênero: Roberto. Eles transaram ali mesmo, no sofá da sala, enquanto Eleonora, entorpecida, dormia o sonhos dos justos.

A amiga se sentia culpada. O marido queria uma cama para dividir apenas com uma mulher. E foi assim que ambos abriram o jogo com Eleonora.

Eleonora tomou vários remédios naquela semana, na verdade, nos anos seguintes. Nunca aceitou a separação, tampouco o fato dos dois terem ficado juntos e felizes. Eleonora toma banho raramente e raramente sorri. Ela se sente punida, massacrada, torturada. Nunca foi a mesma. Na verdade, para enfrentar a vida, Eleonora toma comprimidos. Ela decidiu arrastar sua corrente por anos e até hoje, agora mesmo, continua arrastando-a para todo lado. A juventude se foi, mas a corrente continua atada a suas pernas.



A história de Eleonora poderia ser a de qualquer uma de nós. Mas ela aceitou o desfecho do seu casamento como uma punição. Não se ergue, arrasta sua corrente. Quantas vezes culpamos o outro pela nossa má-sorte ou por nossos fracassos? Quantas correntes temos que quebrar e seguir?








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Postado por
Sarita


às
00:20












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