quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ai, meu pé!



Aconteceu semana passada. Quem me segue no twitter acompanhou o drama.

Era uma segunda-feira linda e bela e resolvi ir trabalhar mais ajeitadinha. Coloquei um vestido branco e vermelho bonitão e o sapato mais lindo e caro que eu tenho (R$ 150. Não sou /nem tenho como gastar muito). Ele é de couro, é vermelho e tem um salto do tamanho perfeito. Parece sapatinho de boneca, é do jeito que eu gosto.
Já tinha usado-o umas quatro vezes. Na primeira, o sapato esfolou meu pé, mas acreditei que seria só aquela vez. De fato: nas próximas, foi tudo lindo. Inclusive na vez em que não usei nem band aid, nem meia fininha. Só depois me toquei que naquele dia, eu não andei praticamente nada. Aí, na infeliz segunda-feira passada, resolvi usá-la e descartei acessórios de proteção. Ai.

Nessas horas, só penso no meu mundo ideal, onde as pessoas não se importarão com roupas e o chão será tão limpo que poderemos andar sempre descalços.

Mas então. Sempre que acontece algo com o meu pé - bolhas surgem sempre, mesmo com tênis bom - lembro de uma cena de "Cidade de Deus", quando os bandidos perguntam ao menino se ele prefere levar um tiro no pé ou na mão. Trágico, eu sei.

Como escrevo desde sempre, me incomoda bastante a idéia de ter uma mão inutilizada. Mas ainda teria a outra. Agora, se eu não tiver um pé, fodeu, porque tudo que eu faço é a pé, e ficar perneta nem rola. 23 anos, sem carta e nem pretensão de dirigir. Prazer.

Mas...

Moro perto do trabalho e venho andando, é coisa de 15 minutos. Tudo reto e tranquilo.
Lá pelo 6º minuto de caminhada, começou a pegar. Senti que ia dar merda. No 8ª minuto, já amaldiçoava a escolha de ter vindo de vestido e sandália - a calça jeans e a bota véia de guerra tavam bem ali, mas, não, eu tenho que inventar de vir meio social.
Lá pelo 10º minuto, as bolhas já apareciam. Mas eu não ia arregar, já tava mais perto do trabalho do que de casa. Cheguei com lágrimas nos olhos e fiquei descalça assim que sentei na minha cadeira. Olhei meu pé. Pensei em tirar foto, mas não quis estragar o almoço de ninguém. Bolhas enormes. Duas ou três por calcanhar. E uma vermelhidão latente.

O banheiro fica a quatro passos da minha mesa, mas ter que dar 2 passos com cada pé, com o sapato esfolando tudo, era um sofrimento sem fim.

As meninas (porque só tem mulher aqui no trabalho :P) sentiram pena de mim. A minha vizinha fofa me emprestou a sapatilha de pano dela. Quase tive um orgasmo de alívio ao trocar o meu pelo dela. Agradavelmente instalados, meus pés me levaram até uma lojinha do outro lado da rua, onde vendem sandálias lindas e caras (onde comprei o sapato que me fudeu, aliás.). Tentei uns sapatinhos baixinhos, a la mocassim, mas não conseguia nem colocar. Os calcanhares impediam qualquer coisa. Foi aí botei o olho nelas.

PAPETES.

Nunca tive, fingia que não gostava (coisas muito práticas TEM que ter alguma coisa de errado. O mesmo se aplica aos crocs. Estes, aliás, odeio mesmo). Mas a verdade é que sempre quis ter um par de papetes. Porque conforto: a gente vê por aqui.
Nem pensei duas vezes.
R$ 70 reais. Esse é o preço de algumas bolhas, gente.

Mas daí eu fiquei feliz. O mundo ficou mais bonito e calmo, porque meus pés estavam praticamente nus e absurdamente confortáveis. Meus sapatos de couro vermelho jaziam na minha bolsa.

Nota: era uma segunda-feira, e eu tinha prometido a mim mesma que começaria a fazer esteira. Desnecessário dizer que nem rolou, né?

O pior de tudo era saber que eu já tinha passado por isso antes, e que ainda passaria por isso muitas vezes na vida. Porque eu sou mulher, gosto de usar umas coisas mais legais às vezes e não aprendo nunca.

Só quem viveu sabe.

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Você, que é mulher e é obrigada a ir trabalhar de salto alto fino. Você, que é mulher e anda com band aids a tira-colo, por usar sapatos desconfortáveis. Você, mulher que compra um sapato lindo e caro, mas que machuca. E ainda assim insiste em usar.
Você entende a minha dor.

Una-se a mim e me conte como dói usar calçados bonitos.

Ou você taca um foda-se gostoso e vai trabalhar de papete? De crocs? De HAVAIANAS?

Conta, conta!

anamyself@corporativismofeminino.com








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Postado por
Anamyself


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