Pra uma mulher, andar de ônibus é uma coisa bem mais complicada do que parece. Vamos começar pela situação menos crítica, que é quando você até consegue encontrar um lugar pra sentar, ou seja, a melhor das hipóteses.
Quando você está lá sentada tranqüilamente ao lado da janela, sempre tem algum homem com Síndrome de Bolas de Cristal pra sentar ao seu lado. Essa síndrome é a única explicação que encontrei pra entender a necessidade dos homens em arreganhar as pernas: eles pensam que tem bolas de cristal, por isso deixam as pernas abertas em um ângulo de 180°, que é pra não quebrar as sensíveis bolas.
Fica a dica pra macharada: Podem fechar a porra das pernas sem medo, suas bolas não vão quebrar não, viu?
Mas continuando, você está lá, tranqüila, até avistar um homo brutus entrando no veículo, daquele tipo que só de olhar você já percebe – Esse tem complexo de bola de cristal!
Você mentaliza: “Não senta do meu lado, não senta do meu lado, não senta do meu lado...”. A cada passo do indivíduo você entoa sua mensagem de fé e esperança: “Não sente do meu lado”.
Mas é claro que Murphy colabora, e a criatura escolhe você como vizinha.
No início, ele forma um ângulo de 60° graus entre as pernas, após alguns minutos o magnetismo entre uma das mãos e o saco se faz presente, a mão vai parar no saco, o saco na mão. Paralelamente e a perna vai se abrindo, o ângulo passa de 60° pra 70°, depois pra 90°, e quando você percebe, o Zé Ruela já está praticamente fazendo um ângulo de 180° com as pernas, e você está lá, toda espremida no cantinho, suando frio e desejando muito um mísero centímetro de distância da perna daquele ser!
Toda sua tentativa de se afastar pra liberar algum espaço é inútil, pois quanto mais você se encolhe no canto, mais ele abre as pernas. Até que chega um momento que você desiste, não dá mais pra suportar aquela situação. Então você mesma começa a afastar as próprias pernas, na esperança de que aquela criatura perceba que você está ali, que você é um corpo, e como todo corpo, é feita de matéria, e que toda matéria precisa de espaço! Então você vai abrindo suas pernas e empurrando a perna do Zé Ruela lentamente, até que ele percebe, e num salto, tira a mão do saco e fecha as pernas! UFA, você pensa, estou a salvo!
Passado 2 ou 3 minutos, se repete o magnetismo entre a mão e o saco, o ângulo entre as pernas do dito cujo novamente se dissipa. Pronto, você acaba de ser vencida pelo o homem bolas de cristal, e não há remédio pra isso.
Ai vamos para os casos mais críticos: quando você está em pé.
Tem uma macharada que adora usar regata no ônibus, e insistem em levantar os braços pra poderem se segurar - logo acima da sua cabeça, claro! Você até pode sentir os pêlos do sovaco do Zé Ruela roçando a sua orelha!
O que posso dizer sobre isso? Sinta-se privilegiada se junto com os pêlos que lhe roçam, não vier aquele cheiro de enxofre exalando dos braços do individuo, agradeça mais ainda se ele não feder a cigarro ou a cachaça. Afinal, o que são uns pentelhinhos alheios acariciando nossa orelha , não é mesmo? Adoramos sentir cócega!
Tem também aquela gente que para se segurar no ônibus, te abraça. Passa o braço por trás de você, te espreme entre o banco e literalmente te abraça, como se fosse a única forma de se manter seguro. Eu adoro abraços, adoro mesmo, mas borá lá, não vamos levar essa história de free hugs tão à sério né. Passe o braço na minha frente, não precisa me abraçar, ok?
Tem um episódio que me lembro até hoje, ocorreu há alguns anos, quando eu voltava do colégio com uma amiga, que aqui vou chamar de Claudinéia.
. Tipo físico de Claudinéia: baixinha e bunduda .
Estávamos lá, nos esforçando pra nos manter de pé no corredor do ônibus, quando de repente Claudinéia começa a se chacoalhar para os lados e fazer uma expressão estranha. Fui perguntar o que acontecia, e ela quis rir, olhei ao redor, e atrás dela e tinha um moço bem mais alto do que ela, de costas. Claudinéia me puxou e cochichou no meu ouvido:
“Bel, ele está sentado na minha bunda!”
Fui reparar e era isso mesmo! A bunda do rapaz ficava justamente em cima da bunda protuberante de Claudinéia, ele aparentemente gostava daquilo, pois havia espaço na frente dele para se afastar, mas não, e ele estava lá, gozando do prazer de sentar na bunda de Claudinéia!
Em outra situação, um senhor, de cabelo branco mesmo, começou a se esfregar em uma senhora evangélica. O velho se excitou a ponto de molhar a calça, o ônibus estava muito cheio, e quando a senhora percebeu aquilo, gritou para que o motorista parasse o ônibus e enxotou o tarado de ejaculação precoce pra fora do veículo.
Vejam só, até pra ser tarado no ônibus tem que ter talento, diferente do moço que sentou na bunda de Claudinéia, aquele velhote ali não tinha talento algum! (Convenhamos, sentar na bunda de Claudinéia foi uma jogada e tanto! Se homem eu fosse, nunca teria pensado nisso!)
E não pense que tudo isso é o pior que pode acontecer, pois quando você está lá, se equilibrando no scarpin, com um sujeito de 2 metros sentado na sua bunda e com um sovaco alheio há alguns milímetros da sua cabeça, pensando, “Meu pai, nada pode ser pior que isso!” - Sempre tem um moço que entra inocentemente pela porta traseira do ônibus, portando algumas caixas, pisando nos pés das damas e espremendo-se ao longo do corredor, gritando:
“ – Olha o drops Ice Kisse patroa, 1 é cinqüenta centavos, 3 é um real.....”
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Autora: bel@corporativismofeminino.com
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