quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Viajando de taxi.




04 horas da manhã. Na noite anterior, havia reservado o táxi pelo telefone que meu irmão me passou. Já estava na dúvida se funcionaria mesmo. O táxi é comum, mas o serviço é fora do comum, ele tinha prometido.

Funcionou. Não chegou a um minuto de atraso. Um senhor com aspecto cansado, mas simpático, me levou com segurança até o terminal dos ônibus para o aeroporto de Confins. Ele trabalha toda madrugada, me contou. Chega em casa de manhã a tempo de levar os filhos para a escola, dorme, acorda para buscar os filhos na escola e sai pra trabalhar.

-Você não sente sono de noite não? – eu pergunto.

-Só de dia. Nem sei mais o que é sentir sono de noite. Já acostumei, são 8 anos. Se eu fosse dono do táxi, só trabalharia de dia. Mas como não sou...

Só um dia de folga na semana. No final de semana o horário de trabalho é ainda maior.
Chego em São Paulo e pago o táxi especial lá no aeroporto de Congonhas. A fila é menor, e tenho horário para cumprir. O taxista não reclama do trânsito, já caótico naquele início de manhã. Confirmo o endereço com ele e fico tranquila. Você é de onde? – ele pergunta.

- De Minas. – respondo – Tá frio por aqui?

-Agora esquentou. Mas no final de semana vai fazer mais frio.

O papo normalmente começa assim. Não gosto de ficar em silêncio no táxi, me dá uma sensação muito estranha. Se o cara não quer papo, tudo bem, respeito. Tem dia que não quero também.

No final da reunião, pego outro táxi em direção à Paulista.

-Tá livre, moço?

-Vamos lá, sobe aí.

Outra reunião. Falo para ele onde vou, é o prédio do Conjunto Nacional. Delícia de prédio, com a Livraria Cultura embaixo. Para o almoço, a companhia dos livros. Ao final da reunião, mais um táxi.

-Moço, vou para Moema, o lugar é pertinho do aeroporto, dá pra ir à pé?

-Não, faz isso não, é muito perigoso! Tem passarela, favela, onde você vai é um perto longe, faz isso não, pega outro táxi.
Peguei. Confesso que fiquei com medo da reação do motorista pela corrida pequena, mas em nenhum momento ele reclamou. Pelo contrário, reforçou que eu tinha que pegar o táxi mesmo.

-É que uma vez eu passei um aperto em Curitiba. – expliquei – O moço quase voou no meu pescoço porque a corrida era pequena.

-Faz assim: entra no táxi, fecha a porta, o carro arranca e aí diz para onde você vai.

-Ah, é? – eu pergunto, achando graça da dica do próprio taxista.

-Um dia a corrida é pequena, outra grande. É assim mesmo. Tem cara que adultera taxímetro pra ganhar mais. Ganha naquela hora, perde na outra. Se você não for bem atendida, tem que reclamar. Não pode deixar barato não.

Agradeço a lição e entro para o aeroporto. Horas depois já desembarco em Porto Alegre.

-Olha, mais uma tranqueira aí na frente. Depois da sinaleira melhora.

“Tranqueira” deve ser engarrafamento, eu penso. “Sinaleira” eu sei o que é, mas não deixo de achar graça. E “lomba”, que ouvi logo em seguida? Lomba é ladeira, o motorista explica.

-Ah... Piramba. Entendi. (Mas acho que o motorista não)

Em Porto Alegre,ouvi de tudo dos motoristas de táxi. A mãe de um teve um ataque cardíaco com seqüelas, outro me explicou os shows que tinham na arena da Pepsi que eu não conhecia, outro chegou a me dar uma receita de chimarrão (juro!!!!). Só falta a cuia, a bomba e a erva, pois a água fervida eu já tenho hehehehe...

Entro no ponto do táxi para a penúltima reunião. Mal sento no banco daquele carro sem tapete para os pés e o motorista já vira para mim, indignado.

-Aquele DUDA é um imbecil!

-Hã?

-Um imbecil, um filho de papai. A torcida tá sangrando, a gente pediu, perde, perde, foi lá e ganhou, agora o Colorado vai ser campeão da Libertadores a nossa custa! Sou gremista desde pequeno, isso revolta, sabe? O cara não entende NADA de futebol, isso me dá uma revolta!!! Mas tem gente mais revoltada que eu. Se fosse em São Paulo, não sei se o cara ainda tava vivo. Sabe o que eu vou fazer? Vou pra praia. Eu sei que vou ouvir o barulho dos fogos, mas vou ouvir menos, ah se vou...

A rua era a Padre Chagas, com cara de bairro de Lourdes, lindos bistrôs, lojinhas...

-Tchê, estou por sua conta, tu paras onde?

-Pode ser aqui mesmo. Que rua legal.

-Bá, mas eu odeio essa rua. Só tem madame!

Saio do carro com o riso preso. Logo o aeroporto me espera.

Chuva, chuva, trânsito, trânsito. Coitada de São Paulo perto de Porto Alegre naquele momento. Parou tudo. Tudo MESMO.

-É acidente. – diz o outro motorista, o último da viagem – Vamos ter de passar pelo acostamento.

E não é que o doido foi? Andamos quase 20 minutos pelo acostamento, como se ele estivesse na via principal, e eu pensando “Será que o cara não vai ser multado? Será que alguém vai nos parar? Será que o guarda...”

-Olha, tá tudo parado mesmo.

Mas meu olho estava fechado. Só abri quando cheguei ao aeroporto.

-Tomara que eu pegue algum passageiro aqui na volta. Bá, ficar preso naquela tranqueira...

Aeroporto de Confins. Um livro depois, muitas horas depois, muitos cafés e lanchinhos depois, o táxi para casa.

-13 reais.

-13? Puxa vida. Hoje é 13 (e de agosto!), sexta-feira, vim na poltrona 13 e agora a corrida deu 13 reais?

O motorista riu.
Chego em casa sozinha. Na cama, um bilhetinho de boas-vindas com uma declaração de amor.

13 é sorte! – Comemoro.

E vou dormir o sono dos justos.


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